domingo, 10 de agosto de 2014

Os Sonhos em Relação ao Inconsciente e o Autoconhecimento.

Quem olha para fora sonha. 
Quem olha para dentro desperta. 
C. Gustav Jung 

Consciente
Leio tantas frases, textos e livros e pela internet repletos da palavra consciência e, nas mais diversas maneiras onde a palavra está empregada sempre tem um sentido que pode-se ver relacionado a uma qualidade psíquica e que seria relacionado ao espírito, ao pensamento ou a mente. 
Segundo a Wikipédia "A consciência é uma qualidade da mente, considerando abranger qualificações tais como subjetividade, autoconsciência, sapiência, e a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente.[...] Ser consciente não é exatamente a mesma coisa que perceber-se no mundo, mas ser no mundo e do mundo, para isso, a intuição, a dedução e a indução tomam parte."
Entre os psicólogos que se ocuparam do tema, podemos destacar Wilhelm Wundt e o seu estruturalismo, cujo objeto de estudo era a experiência consciente. Para o estruturalismo, o componente primordial da consciência é a sensação.
LYRA, Carlos Eduardo de Sousa. O inconsciente e a consciência: da psicanálise à neurociência. Psicol. USP [online]. 2007, vol.18, n.3, pp. 55-73. ISSN 0103-6564.
Inconsciente
O conceito de inconsciente foi hipotetizado por Freud para explicar as deformações da consciência do homem que não podiam ser atribuídas a uma simples irracionalidade. Qualquer forma de ser consciente é co-implícito e co-intencional; cada forma de ser inconsciente se experimenta em seus efeitos na consciência, isto é, na maneira em que experiências perceptíveis conscientemente registradas se moldam, interrompem, intensificam, lacunizam, contextualizam e assim se seguem. (Ricoeur). O sujeito psíquico, do ponto de vista da perspectiva psicanalítica, não se situa nem na consciência, embora fenomenológicamente seja vivido como tal, e nem existe no inconsciente. Ele se cria e se sustem no momento que se descentra no interjogo dialético da consciência e da inconsciência. O sujeito psicanalítico: refere-se ao indivíduo em sua capacidade de gerar um sentido, uma espécie de eu-idade (I-ness, na terminologia de Thomas Ogden) experienciante (subjetividade), por rudimentar e simbolizado que seja tal sentido de eu-idade.
BARROS, E.M.R. The Unconscious and the Building up of Meanings in Mental Life. Psicologia USP, São Paulo, v.10, n.1, p.97-117, 1999.
Alguns entendem o inconsciente como ações inconscientes baseadas em informações do passado, experienciadas ou noticiadas. O estímulo subliminar é pego pelo inconsciente, é qualquer estímulo não captado a nível de consciência por estar abaixo dos limites sensoriais receptores.
Segundo a Wikipedia: O inconsciente define um complexo psíquico (conjunto de fatos e processos psíquicos) de natureza praticamente insondável, misteriosa, obscura, de onde brotariam as paixões, o medo, a criatividade e a própria vida e morte.

Em "O Homem e os seus Símbolos", Jung comenta sobre a simbologia em relação ao inconsciente:
Aquilo a que chamamos símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua conotações especiais para além do seu significado evidente e convencional. Implica algo de vago, desconhecido ou oculto para nós. Assim, uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato. Esta palavra ou esta imagem tem um aspecto mais amplo, que nunca é definido de uma única forma ou explicado totalmente, nem podemos ter esperanças de a definir ou explicar. Quando a mente explora um símbolo, é conduzida em direção a ideias que estão fora do alcance da nossa razão. Por existirem inúmeras coisas fora do alcance da compreensão humana é que utilizamos freqüentemente termos simbólicos como representação de conceitos que não podemos definir ou compreender integralmente. Esta é uma das razões por que todas as religiões empregam uma linguagem simbólica e se exprimem através de imagens. Mas este uso consciente que fazemos dos símbolos é apenas um aspecto de um facto psicológico de grande importância: o homem também produz símbolos, inconsciente e espontaneamente, em forma de sonhos. Há ainda certos acontecimentos de que não tomamos consciência. Permanecem, por assim dizer, abaixo do limiar da consciência. Aconteceram, mas foram absorvidos subliminarmente, sem o nosso conhecimento consciente. Só podemos percebê-los em algum momento de intuição ou por um processo de intensa reflexão que nos levem à subsequente compreensão de que devem ter acontecido. E, apesar de termos ignorado originalmente a sua importância emocional e vital, mais tarde brotam do inconsciente como uma espécie de segundo pensamento. Este segundo pensamento pode aparecer, por exemplo, sob a forma de um sonho. O aspecto inconsciente de um acontecimento é-nos revelado, geralmente, através de sonhos, onde se manifesta, não como um pensamento racional, mas como uma imagem simbólica. Do ponto de vista histórico, foi o estudo dos sonhos que permitiu, inicialmente, aos psicólogos, a investigação do aspecto inconsciente de ocorrências psíquicas conscientes. Fundamentados nestas observações é que os psicólogos admitem a existência de uma psique inconsciente, apesar de muitos cientistas e filósofos lhe negarem existência. Argumentam ingenuamente que uma tal pressuposição implica a existência de dois “sujeitos” ou, em linguagem comum, de duas personalidades dentro do mesmo indivíduo. E estão inteiramente certos: é exatamente isto o que ela implica. Esta divisão de personalidades é, com efeito, uma das maldições do homem moderno. Não é, de forma alguma, um sintoma patológico: é um facto normal, que pode ser observado em qualquer época e em quaisquer lugares. O neurótico cuja mão direita não sabe o que faz a sua mão esquerda não é caso único. Esta situação é um sintoma de inconsciência geral, que é, inegavelmente, herança comum de toda a humanidade. Aquele que nega a existência do inconsciente está, de facto, a admitir que, hoje em dia, temos um conhecimento total da psique. É uma suposição evidentemente tão falsa quanto a pretensão de que sabemos tudo a respeito do universo físico. A nossa psique faz parte da natureza e o seu enigma é, igualmente, sem limites. Assim, não podemos definir a psique nem a natureza. Podemos, simplesmente, constatar o que acreditamos que elas sejam e descrever, da melhor maneira possível, como funcionam. No entanto, fora das observações acumuladas em pesquisas médicas, temos argumentos lógicos de bastante peso para rejeitarmos afirmações como “não existe inconsciente”, etc. Aqueles que fazem este tipo de declaração estão a expressar um velho misoneísmo – o medo do que é novo e desconhecido. Sigmund Freud foi o pioneiro, o primeiro cientista a tentar explorar empiricamente o segundo plano inconsciente da consciência. Trabalhou baseado na hipótese de que os sonhos não são produto do acaso, mas que estão associados a pensamentos e problemas conscientes. Esta hipótese nada apresentava de arbitrário. [...] Estas mensagens do inconsciente têm uma importância bem maior do que se pensa. Na nossa vida consciente, estamos expostos a todos os tipos de influência. As pessoas estimulam- nos ou deprimem-nos, ocorrências da nossa vida profissional ou social desviam a nossa atenção. Todas estas influências podem levar-nos para caminhos opostos à nossa individualidade; e quer percebamos quer não o seu efeito, a nossa consciência é perturbada e exposta, quase sem defesas, a estes incidentes. Isto ocorre em especial com pessoas de atitude mental extrovertida, que dão muita importância a objetos exteriores, ou com as que abrigam sentimentos de inferioridade e de dúvida, envolvendo o mais íntimo da sua personalidade. Quanto mais a consciência foi influenciada por estes preconceitos, erros, fantasias e anseios infantis, mais se dilata a fenda já existente, até se chegar a uma dissociação neurótica e a uma vida mais ou menos artificial, em tudo distanciada dos instintos normais, da natureza e da verdade. A função geral dos sonhos é tentar restabelecer a nossa balança psicológica, produzindo um material onírico que reconstitui, de maneira sutil, o equilíbrio psíquico total. [...] As pessoas, é claro, tendem a pôr em dúvida esta função, já que os seus símbolos, muitas vezes, passam despercebidos ou são incompreendidos. Na vida normal, a compreensão dos sonhos é até, por vezes, considerada supérflua. De um modo geral, é uma tolice acreditar-se em guias pré-fabricados e sistematizados para a interpretação dos sonhos, como se pudéssemos comprar um livro de consultas para nele encontrarmos a tradução de um determinado símbolo. Nenhum símbolo onírico pode ser separado da pessoa que o sonhou, assim como não existem interpretações definidas e específicas para qualquer sonho. A maneira pela qual o inconsciente completa ou compensa o consciente varia tanto de indivíduo para indivíduo que é impossível saber até que ponto pode, na verdade, haver uma classificação dos sonhos e dos seus símbolos. O sonho recorrente é um fenômeno digno de apreciação. Há casos em que as pessoas sonham o mesmo sonho, desde a infância até à idade adulta. Este tipo de sonho é em geral uma tentativa de compensação para algum defeito particular que existe na atitude do sonhador em relação à vida; ou pode datar de um traumatismo que tenha deixado alguma marca. Pode também ser a antecipação de algum acontecimento importante que está para acontecer.
Sonhos
Os sonhos em nossa realidade atual e sociedade tem uma visão muito relativa e de grande controversia, em diversas tradições culturais e religiosas o sonho aparece revestido de poderes premonitórios. A oniromancia [previsão do futuro pela interpretação dos sonhos] é citada em diversas culturas e por Jung também. Até pensadores e cientistas como Kekulé - que propôs a fórmula hexagonal do benzeno após sonhar com uma cobra que mordia sua própria cauda - mostram a importante influência dos sonhos em nossa vida. Também, Balder, teve um sonho a anunciar a sua morte, e que esta seria uma das causas e um dos sinais da proximidade do dia de Ragnarok, o fim do mundo. A importância dos sonhos é inegável e deve ser avaliada Os sonhos constituem o mundo interno, sempre inacabado, do imaginário simbólico, a válvula de escape do psiquismo humano, onde se encontram as respostas conhecidas e desconhecidas, os verdadeiros desejos e vontades. É a fonte primária de todos os estímulos, a percepção para outras dimensões. Todo banco de informações do indivíduo está lá registrado. No antigo Egito atribuía-se ao sonho um valor premonitório. Lia-se nos seus livros de sabedoria que "Deus criou os sonhos para indicar o caminho aos homens quando esses não podem ver o futuro". Nos templos, os sacerdotes-leitores, os escribas sagrados ou onirólogos, interpretavam os símbolos dos sonhos segundo chaves transmitidas oralmente através dos tempos. Esta arte a que se dava o nome de orinomancia, ou a divinação por meio dos sonhos, era praticada em todos os lugares. Com cautela, assim como qualquer prática e leitura.
Freud (de 1856 a 1939) propôs que o sonho reflete conteúdos individuais da pessoa que sonha, geralmente tratando-se da satisfação de desejos ou expressões de pulsões reprimidas. Além disso, ele afirma que os sonhos são construídos a partir da experiência da vida do cotidiano. Sempre contêm referências ao dia passado e todas as falas significativas são provenientes de falas que a pessoa que sonha ouviu ou leu durante o dia (Freud, 1900/1996). Diferentemente, seu contemporâneo mais jovem, Jung (de 1875 a 1961), distinguiu entre sonhos insignificantes que trabalham problemas do cotidiano e sonhos significativos que são um caminho de transmissão da sabedoria milenar da humanidade. Esses últimos trazem símbolos que, independentes das narrativas tecidas ao redor deles pela pessoa que sonha, têm uma vida própria por serem produtos espontâneos do inconsciente coletivo. Enquanto o inconsciente pessoal é o resultado da vivência do indivíduo, os conteúdos do inconsciente coletivo não foram adquiridos durante a vida individual (Jung, 1943/1975). Para Jung (1943/1974) um sonho significante pode ser reconhecido pela presença de arquétipos. Essa presença indica que o mesmo pretende comunicar algo fundamental, algo que transcende as limitações do indivíduo. O autor descreve sonhos de repetição que tentam tornar consciente uma condição psíquica particularmente problemática e geralmente também trazem uma proposta de solução. Em sonhos compensatórios aspectos de arquétipos que não são bem desenvolvidos na vida do cotidiano da pessoa que sonha são expressos. Quando a pessoa vivencia suas experiências cotidianas de forma excessivamente unilateral, seu sonho pode até criar, para compensar os déficits, um mundo completamente oposto. Além disso, há sonhos que predizem o futuro ou contêm uma advertência para um perigo futuro. Às vezes esses sonhos pretendem sinalizar para a pessoa que ela precisa mudar seu estilo de vida ou fazer uma determinada escolha para evitar uma catástrofe futura. Para interpretar os sonhos, não se depende, como é o caso no método freudiano, das associações altamente pessoais do paciente, mas procuram-se referências nos mitos antigos, na arte e em outras fontes que podem elucidar os arquétipos.
VANDENBERGUE, Luc and PITANGA, Artur Vandré. A análise de sonhos nas terapias cognitivas e comportamentais. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2007, vol.24, n.2, pp. 239-246. ISSN 0103-166X. 
Freud nos deixou um legado propondo que todo sonho possui um sentido. Nesse sentido, pelo método freudiano tem que se buscar lá atrás a causa do sonho. Esse método retrospectivo faz com que se busquem as redes de informações, que se ligam, em uma linha de tempo. Já o método Junguiano é prospectivo. Isto é, para Jung, os sonhos não eram só uma sequência de causas, mas também um processo orientado para um fim. Quanto à interpretação, é como desvendar um símbolo ou uma charada, não só para dar respostas a curiosidades do espírito - self. Essas revelações indicam caminhos para melhorar o autoconhecimento, aperfeiçoando a comunicação interna entre o consciente e o inconsciente (o equilíbrio mental, pode-se especular um equilíbrio/unificação maior entre as polaridades do lado direito e esquerdo do cérebro? Quem sabe.) Essa é uma das formas de integração da personalidade. Isso significa ser uma pessoa com maior auto conhecimento sobre si mesma, podendo alcançar um ponto de equilíbrio na análise da própria personalidade, no ego e no alterego. Uma vida psíquica onde o trabalho mental venha a ser mais criativo. Como Jung encarava os sonhos e um forte ponto da terapia dos sonhos é uma abordagem que se chama princípio da individualização, que se caracteriza em estabelecer as relações que existem entre os símbolos, as imagens, as cores, números, diálogos que se produzem e a vida do indivíduo, da pessoa que sonha. Assim, tenta-se estabelecer as características ou qualidades daquela pessoa. os pontos que a diferenciam de outras pessoas. Era o que para Carl Gustav Jung vinha a ser entender o indivíduo, o que o diferenciava de outros indivíduos. Sendo que para ele os sonhos representavam um acelerador nesse processo de individualização que rege o conhecimento e a integração dos estados de satisfação e insatisfação, onde se encontra a capacidade energética da pessoa. O sonho está profundamente alojado na intimidade da consciência e a nossa expressão mais secreta e mais impura de nós mesmos. Pelo menos duas horas por noite vivemos nesse mundo onírico dos símbolos.
Concluo com uma ideia de que a reflexão sobre os sonhos deve ser buscada se o autoconhecimento é  desejado, afinal ele nos revela aspectos insconscientes importantes de nós mesmos, estes que permanecem tão misteriosos para nós e assim permanecerão até encontrarmos uma forma melhor de adentrarmos ao nosso inconsciente.

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